O Nascimento da Minha Menina

O Nascimento da Minha Menina

Deixe eu começar pelo Gran Finale. 

O relógio marcava cinco da tarde e eu estava deitada em cima do meu tapete de Yoga, no chão do quarto, cercada por travesseiros e uma compressa quente na barriga. As cortinas estavam fechadas e os meus mantras estavam tocando. Minha mente havia escapado para uma dimensão diferente, para um lugar onde eu pudesse encontrar paz em meio à minha realidade atual.

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Toda a minha equipe estava no chão comigo, esperando minha próxima contração. Estavam a Juliana, parteira, bem ao meu lado e a Cecília, fisioterapeuta, atrás de mim. A Larissa, acupunturista, tinha acabado de fazer algumas ventosas nas minhas costas. Meu marido, Fulvio, também estava lá, cuidando para que a compressa quente ficasse em contato com a frente da minha pelve.

Quando veio a contração, Cecília fez pressão nos meus quadris para me ajudar na abertura pélvica e lidar com a dor na lombar, enquanto Fulvio segurava minha mão e Juliana me emprestava suas pernas como travesseiros. Lembro-me de precisar de todo o toque e calor humano que eu pudesse obter. 

Embora a dor na minha lombar fosse difícil de lidar, a dor na frente da minha pelve era diferente, era aguda e quase insuportável.

Quando contei à minha equipe sobre essa dor aguda, elas sabiam que o bebê precisava de ajuda para ficar na posição certa. Sua cabeça estava tentando descer, mas continuava numa posição que não a ajudava. Para ser mais precisa, sua cabeça estava batendo na frente da minha pelve, por isso a dor era tão aguda e difícil de lidar. A compressa quente ajudou, mas não foi suficiente.

Eu me vi no inferno. As dores eram excruciantes. Naquele momento todo meu conhecimento sobre o corpo através da Técnica de Alexander, Yoga, e Mindfulness simplesmente evaporou. Eu era como um gato assustado tentando encontrar uma maneira de escapar daquela situação. Foi quando eu entrei num mundo imaginário e comecei um discurso desconexo.

“Ainda não estou sangrando, esse processo todo ainda vai demorar um pouco. Quando vamos para o hospital? Eu não consigo ficar no carro por 40 minutos até chegar no hospital. O hospital é muito longe. As contrações estão ficando cada vez mais próximas. Eu não serei capaz de lidar com elas no caminho para lá. Quando chegarmos ao hospital, por favor, me dê uma epidural, preciso dormir e descansar antes que ela saia.”

Eu estava tentando resistir a tudo. Foi quando a Juliana sussurrou como um anjo em meus ouvidos, “Ariel, mesmo que você tome uma epidural, ainda precisará fazer o seu trabalho. O parto é um compromisso conjunto, você junto com ela. Não há como escapar."

Fazer o “trabalho”, que neste caso é fazer o trabalho interior, estar presente e cooperar não importa o que aconteça, é algo que conheço intimamente, então naquele momento, as palavras dela pareciam minhas.

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Depois de ouvi-la, não hesitei. Simplesmente voltei a atenção ao meu corpo e olhei para minha própria dor diretamente nos olhos. Lá estava eu, conectada com o momento presente, com meu corpo e minha mente. Eu sabia exatamente o que precisava fazer. 

Lembram do momento em que o Neo do filme Matrix começou a acreditar que era o escolhido? Foi como me senti. Assim como ele, eu estava totalmente consciente, sem medo ou fugindo dos vilões. 

Senti como se tudo o que aprendi na minha área tivesse me preparado para aquele momento. Não só eu sabia, em teoria, que meu pescoço e pelve significava o começo e o fim do meu torso, como eu sentia isso na prática em cada pedaço de mim enquanto a dor ia e vinha. Se meu pescoço estivesse livre, minha pelve também estaria. E, com uma boa abertura pélvica, minha garotinha seria capaz de encontrar a posição certa para descer. 

Pensei comigo, ‘Para continuar seguindo em frente, eu tenho que ser minha própria professora.’ Foi nesse momento que eu virei o jogo. Eu já estava presente e sabia o caminho, agora era só percorrê-lo. Ou seja, eu precisava ter paciência para liberar a dor e o desconforto com movimentos e mindfulness, uma contração por vez. 

Com isso em mente, eu surfei cada onda de contração à medida que ela vinha. Me concentrei em manter meu pescoço e corpo livres mesmo que a vontade fosse de contrair tudo. O que percebi foi que manter meu corpo aberto e se expandindo a cada contração era uma verdadeira obra de arte e, para mim, essa expressão artística parecia mais um exorcismo.

A cada nova contração, eu mudava de posição. Não importa se estava deitada ou em pé, quando a contração vinha eu ia para o quatro apoios. Eu rapidamente girava minha cabeça em círculos, boca aberta, liberando qualquer pressão no meu pescoço, ombros, dorso, pelve enquanto eu uivava, gritava e tremia. 

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Quando eu não estava girando meu pescoço, eu o balançava para a esquerda e para a direita enquanto deixava toda a dor que eu sentia ir embora. Uma das garotas pressionava meus quadris com as duas mãos, enquanto outra mantinha minha pelve aquecida com uma compressa quente.

Por mais forte que fosse cada contração, eu não fugia, simplesmente mantive a intenção de abrir meu corpo e me mover de uma forma que ajudasse no processo. Lembro-me de olhar para Fulvio e ver suas pupilas bem abertas, como se estivéssemos em uma rave. A adrenalina tomou conta de todos os presentes, não só de mim.

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E assim como no filme Matrix, quando Neo começou a acreditar, tudo começou a mudar.

Depois de cerca de uma hora tendo contrações com 3-5 minutos de intervalo, numa escala 10 de dor, mantendo minha mente e corpo conectados através de movimento e intenção, algo mudou. A dor na frente da pelve se tornou suportável. Nessa altura, sabíamos que ela estava na posição certa e pronta para descer.

Era hora de ir para o hospital (se você não leu meu último texto do blog sobre os motivos pelos quais tive que mudar meus planos de parto domiciliar para parto hospitalar, clique aqui para ler). Minha equipe foi incrível e garantiu que estávamos levando tudo o que precisávamos conosco.

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Cecília se certificou que o pessoal da cozinha preparasse minha canja de galinha, frutas, pão de queijo e chás para levar para o hospital. Ela também fez questão de levar meu tapete de yoga e coisas pessoais, como travesseiros e cobertas. Nesse momento, a equipe se dividia entre se comunicar com a obstetra que estava no hospital, juntar as coisas que precisávamos levar e preparar o carro.

Já no carro, minhas contrações estavam com 2-3 minutos de intervalo. A doula Flora estava no banco da frente mandando mensagens de texto para o resto da equipe e descobrindo como dar entrada no quarto do hospital da maneira mais tranquila e rápida possível. Meu motorista, Cosme, estava sendo muito cuidadoso no trajeto até o hospital. Fulvio estava no banco de trás e Juliana e eu estávamos no banco do meio.

Foi um dos passeios de carro mais difíceis, porém mais psicodélicos da minha vida. No céu, era lua cheia no signo de Leão e estando com as janelas abertas, eu fui capaz de sentir todo o poder dessa lua. Em posição de quatro, como um cachorro, eu olhava pela janela e permitia que a brisa aliviasse minha dor.

E gente, era tanta dor! 

O apoio que Juliana me deu foi fundamental em todos os solavancos da estrada até o hospital. Minhas mãos estavam segurando suas pernas, meu joelho esquerdo estava apoiado no banco do carro e meu pé direito estava no chão. E, a cada contração, me sentia grata por ter as mãos de Fulvio nas minhas costas.

Após cerca de quarenta minutos, chegamos ao hospital. A essa altura, minhas contrações provavelmente estavam com um minuto de intervalo. Não havia sangue e minha bolsa não havia estourado. Era só eu, minha dor e um lindo vestido floral de algodão que eu estava usando. 

Assim que saí do carro, agachei, porque a última contração foi tão forte, que só me restava o chão como apoio. Lembro-me de ver a expressão de chocado no rosto do meu motorista.

Eu e a Flora entramos rapidamente no hospital, pois não foi necessário eu dar a entrada. Tudo já estava preparado, graças a Deus. Assim que entrei no elevador, veio outra contração, e mais uma vez me agachei no chão, mas agora de quatro. Flora estava bem atrás de mim pressionando meus quadris para me ajudar a passar por essa nova onda. Quando finalmente chegamos ao quarto, a obstetra Luciana, já estava lá me esperando.

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Lembro-me de dizer a ela, “Me dê uma epidural, por favor, não há sangue, isso ainda vai demorar um pouco e eu não aguento mais”. Logo que Cecília chegou com meu tapete de yoga e meus travesseiros, fui direto para o chão, deitei nele de lado. A obstetra estava ao lado das minhas pernas e me permitiu colocar meus pés em seus ombros.

Quando senti uma forte pressão no assoalho pélvico, lembro-me de pensar, 'Meu Deus, é agora, é a cabeça dela'. Eu respirei fundo e quando soltei o ar sua cabecinha saiu. Fulvio estava ali e disse, “Meu amor, ela é uma linda garotinha, parece com o Jasper. Respire mais uma vez.” Esperei a última contração e quase sem nenhum esforço a mais, seu corpo saiu.

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Luciana a pegou e a colocou em meus braços. Eram 20h25 e eu estava em êxtase. Acabei não tomando a epidural apesar de ter pedido (graças a minha equipe que já sabia o que eu queria no meu plano de parto). Estávamos todos no chão e ela nasceu no meu tapete de yoga!

Eu realmente não precisei empurrá-la para que ela saísse. Todo o trabalho de mente/corpo/alma que tinha feito nas últimas três horas e meia foi o bastante para dar conta de tudo o que precisava ser cuidado. Não haviam se passado vinte minutos desde que chegamos no hospital e ela já havia nascido.

Minha bolsa estourou assim que ela estava saindo. A bebê e eu passamos cerca de uma hora juntinhas. Ela não tinha muito vernix, então mantivemos o pouco que estava lá. Esperamos pelo menos uma hora para cortar o cordão umbilical e ela pegou no peito sem nenhuma dificuldade. Lembro que minhas pernas ainda tremiam, mas fora isso eu me sentia ótima. Estávamos todos em êxtase, vibrando na mesma frequência.

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Mesmo estando num quarto de hospital, eu tinha minha própria equipe e elas respeitaram tudo o que pedi no plano de parto. Cada uma delas tinha um dom especial e o que todas tinham em comum era que estavam ali para tudo o que eu precisasse. Por causa desse grupo de mulheres incríveis, tive uma nova experiência inesquecível e por isso sou eternamente grata. 

Acabei não tomando os antibióticos que deveria ter tomado quatro horas antes do parto, pois tudo aconteceu muito rápido, mas nossa filhinha está indo muito bem. Ela é saudável, bonita e tem uma alma muito doce. A mamãe aqui está super bem também. Eu consegui tomar banho, andar, conversar, rir e comer pão de queijo depois que ela nasceu com a maior tranquilidade.

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Tudo correu ainda melhor do que eu havia escrito no texto Visualizando Sucesso: Escrevendo a História do Meu Parto Através da Arte da Visualização. Estou feliz por ter me sentido pronta e capaz para enfrentar os desafios com tanta coragem. 

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Eu pensei que ela ia ser do signo de Peixes, mas ela acabou sendo de Aquário. Achei que o nome dela ia ser Goya, mas quando olhei para ela, não a senti como Goya. Achei que ia ter um parto domiciliar, mas ela me levou para o hospital para que eu pudesse ter outro ponto de vista.

No final, me dei conta de que, assim como todo aquariano que conheço, nossa filhinha não gosta de seguir planos pré-determinados pelos outros. O que gosta mesmo é criar seu próprio futuro da maneira que visualiza e deseja. 

Tudo o que sei é que trabalhamos bem juntas e sou muito grata por ela ter me escolhido como sua mãe. 

A pequena nasceu na quarta-feira, 16 de fevereiro de 2022, às 20h25, horário de Brasília. Medindo 46cm e pesando 2.9 kilos.

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Equipe De Parto:

Fotografia 
@camilla.albano

Doula 
@doulafloraterra

Físio Pélvica 
@fisioceci 

Acupunturista 
@larissa.javi

Obstetriz
@ju_obstetriz

Obstetra
@lu_patricio_marques

Assistência ao recém-nascido 
@mayara_fortes

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Traduzido por: Raquel Araujo

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Comments

Natália

Nossa que emocionante. Experiencia de uma guerrera. Parabens pela equipe.
Obrigada por compartilhar. Linda historia. Penelope ♥️
🙏🏻♥️ Muito amor Ariel! ♥️🙏🏻

Luana Maria Aguiar Medeiros

Momento incrível ….💓💓💓💓

Dines Perroni

Parabens minha linda!!! Deus abençoe sempre!!! Que linda experiencia meu amor!! Súper emocionada com seu parto 🙏🏼👏🏼👏🏼👏🏼❤️

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